A resposta de Rui Branco
Caro António Rodrigues,
Permita-me, desde logo, que separe duas coisas que nada têm que ver uma com a outra. Uma coisa, é o conjunto das duas notícias da Lusa por si escritas, outra coisa é a utilização por parte do jornal Público de ontem de apenas uma delas. Cinjamo-nos a esta, porque foi sobre esta e à sua publicação sem mais pelo Público que me referi aqui.
Esta notícia não é pura e simplesmente uma notícia. E não é uma notícia porque não tem qualquer conteúdo noticioso ou sequer informativo relevante. O facto de os nomes dos candidatos surgirem citados no technorati x ou y número de vezes é, em si mesmo, ausente de significado político. Isto porque, como admite no seu post de resposta, podem ser citados apreciativamente, depreciativamente, duzentas vezes de seguida, pode alguém escrever em vários blogues, podemos estar a falar em «dar cavaco a alguém», do Soares do talho, do Jerónimo de Sousa que é meu primo, etc. Foi isto que tentei mostrar no meu post, ironizando.
É como o televoto: é impossível retirar qualquer inferência noticiosa para além do simples facto numérico do número de citações. É por isso que a alusão aos 24,7 milhões de blogues é irrelevante (se eu lhe dissesse que hoje já são 24,8 milhões de blogues – e já são – essa informação seria igualmente irrelevante para o meu argumento aqui); é por isso que a referência muito precisa aos números de cada candidato é irrelevante; é por isso que a referência «às últimas 16 horas» é irrelevante. São sinais exteriores de precisão, fazendo apelo a uma retórica da objectividade, à qual não corresponde qualquer realidade efectiva.
E isso, desculpe que lhe diga, não é jornalismo criterioso. Contudo, até ao quinto parágrafo, a notícia era só isso: uma não-notícia. O pior é o dito quinto parágrafo, onde se faz a ligação que transforma uma coisa até aí irrelevante noutra coisa, numa coisa algo mais grave. Cito na íntegra: «Quanto aos outros candidatos, a distância é grande, mostrando que também a Internet reflecte, em certa medida, a tendência de voto para as eleições de 22 de Janeiro apontada pelas sondagens».
Digo-o, então, claramente: o número de vezes que os nomes dos candidatos são citados no technorati em nenhuma medida reflecte a tendência de voto para estas ou quaisquer outras eleições.
Se assim não fosse, caro António, porque não retirar a conclusão contrária à sua, deduzindo dos números de citações que Mário Soares está muito mais próximo de Cavaco Silva do que as sondagens têm vindo a mostrar? E que, por conseguinte, o número de citações não reflecte, «em certa medida, a tendência de voto para as eleições de 22 de Janeiro apontada pelas sondagens».
V. acusa-me de sobrevalorizar o quinto parágrafo, mas é o contrário que sucede. Sem o que é erradamente afirmado no dito parágrafo, V. não chega a ter uma «notícia» porque é esse parágrafo que, erroneamente, estabelece uma ponte entre uma coisa em si mesma muda, um número cujo sentido é insondável, e uma realidade, política, essa sim muito relevante.com os
os meus cumprimentos,
Rui Branco
Permita-me, desde logo, que separe duas coisas que nada têm que ver uma com a outra. Uma coisa, é o conjunto das duas notícias da Lusa por si escritas, outra coisa é a utilização por parte do jornal Público de ontem de apenas uma delas. Cinjamo-nos a esta, porque foi sobre esta e à sua publicação sem mais pelo Público que me referi aqui.
Esta notícia não é pura e simplesmente uma notícia. E não é uma notícia porque não tem qualquer conteúdo noticioso ou sequer informativo relevante. O facto de os nomes dos candidatos surgirem citados no technorati x ou y número de vezes é, em si mesmo, ausente de significado político. Isto porque, como admite no seu post de resposta, podem ser citados apreciativamente, depreciativamente, duzentas vezes de seguida, pode alguém escrever em vários blogues, podemos estar a falar em «dar cavaco a alguém», do Soares do talho, do Jerónimo de Sousa que é meu primo, etc. Foi isto que tentei mostrar no meu post, ironizando.
É como o televoto: é impossível retirar qualquer inferência noticiosa para além do simples facto numérico do número de citações. É por isso que a alusão aos 24,7 milhões de blogues é irrelevante (se eu lhe dissesse que hoje já são 24,8 milhões de blogues – e já são – essa informação seria igualmente irrelevante para o meu argumento aqui); é por isso que a referência muito precisa aos números de cada candidato é irrelevante; é por isso que a referência «às últimas 16 horas» é irrelevante. São sinais exteriores de precisão, fazendo apelo a uma retórica da objectividade, à qual não corresponde qualquer realidade efectiva.
E isso, desculpe que lhe diga, não é jornalismo criterioso. Contudo, até ao quinto parágrafo, a notícia era só isso: uma não-notícia. O pior é o dito quinto parágrafo, onde se faz a ligação que transforma uma coisa até aí irrelevante noutra coisa, numa coisa algo mais grave. Cito na íntegra: «Quanto aos outros candidatos, a distância é grande, mostrando que também a Internet reflecte, em certa medida, a tendência de voto para as eleições de 22 de Janeiro apontada pelas sondagens».
Digo-o, então, claramente: o número de vezes que os nomes dos candidatos são citados no technorati em nenhuma medida reflecte a tendência de voto para estas ou quaisquer outras eleições.
Se assim não fosse, caro António, porque não retirar a conclusão contrária à sua, deduzindo dos números de citações que Mário Soares está muito mais próximo de Cavaco Silva do que as sondagens têm vindo a mostrar? E que, por conseguinte, o número de citações não reflecte, «em certa medida, a tendência de voto para as eleições de 22 de Janeiro apontada pelas sondagens».
V. acusa-me de sobrevalorizar o quinto parágrafo, mas é o contrário que sucede. Sem o que é erradamente afirmado no dito parágrafo, V. não chega a ter uma «notícia» porque é esse parágrafo que, erroneamente, estabelece uma ponte entre uma coisa em si mesma muda, um número cujo sentido é insondável, e uma realidade, política, essa sim muito relevante.com os
os meus cumprimentos,
Rui Branco
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