29 março 2006

Nem os iraquianos acreditam nas suas forças de segurança

O Governo do Iraque tem recomendado aos seus cidadãos que desobedeçam às ordens da polícia e do exército iraquianos, sobretudo à noite, se estes não estiverem acompanhados pelas forças da coligação, informa um “blog” iraquiano.
De acordo com o “blog” Baghdad Burning(www.riverbendblog.blogspot.com), o Ministério da Defesa tem vindo a difundir mensagens através de alguns canais de televisão iraquianos(Sharqiya e Baghdad, pelo menos) recomendando cuidado aos seus cidadãos, por causa dos inúmeros raptos e execuções atribuídos a patrulhas das forças iraquianas que têm aumentado nas últimas semanas.
“O Ministério da Defesa solicita aos civis que não acatem as ordens do exército ou da polícia em patrulhas nocturnas, a não ser que estejam acompanhados das forças da coligação a actuar nessa área”, dizia a mensagem difundida pelas televisões iraquianas.
Com a violência sectária a aumentar desde o ataque à bomba contra a mesquita xiita de Samarra no mês passado, com mil mortos registados só na semana subsequente ao atentado e muitas centenas mais depois, os iraquianos, que já temiam sair à rua, vêem-se agora em perigo até nas suas casas.
As milícias xiitas e os seus combatentes integrados nas forças de segurança governamentais, principalmente afectas ao Ministério do Interior, têm vindo a ser acusados de estar a levar a cabo uma guerra suja contra os sunitas, recorrendo a raptos e execuções sumárias.
Nas últimas três semanas, de acordo com o New York Times, foram encontrados pelo menos 267 cadáveres em Bagdad com fortes indícios de terem sido executados.
No domingo passado, as autoridades iraquianas encontraram dez corpos em Bagdad e informaram os jornalistas de que estariam a investigar a decapitação de 30 homens em Baaquba (50 quilómetros a norte da capital).
Terça-feira, a polícia de Bagdad descobriu 17 cadáveres com os pulsos amarrados e um buraco de bala na cabeça.
O “blog” Baghdad Burning, escrito em jeito de diário do quotidiano no Iraque ao que tudo indica por uma mulher iraquiana de 24 anos – e cuja edição em livro na Grã-Bretanha está pré-seleccionada para o prémio Samuel Johnson de não-ficção promovido pela BBC –reflecte sobre o estado de espírito de quem tem de viver entre o temor de ser morto e a procura dos familiares que desapareceram, levados pelas forças iraquianas. Para a autora do “blog”, a mensagem do Ministério da Defesa “confirma aquilo que era óbvio para os iraquianos desde o princípio – as forças de segurança iraquianas são na realidade milícias aliadas a partidos políticos ou religiosos”.
“O Ministério da Defesa nem sequer confia no seu próprio pessoal, a não ser que esteja ‘acompanhado pelas forças da coligação norte-americanas’”, reforça o “blog”.
O embaixador dos Estados Unidos no Iraque, Zalmay Khalilzad, tem vindo a pressionar sem êxito o Governo do primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari, xiita, para que este acabe com as milícias xiitas e expurgue as forças iraquianas da influência das milícias.
Khalilzad aumentou o tom das críticas na semana passada, ao dizer publicamente que as milícias já estão a matar mais pessoas do que a guerrilha liderada por Abu Mussab Al-Zarqawi. Por este motivo terá Washington perdido a paciência com Al-Jaafari.
Na terça-feira, de acordo com o New York Times, Zhalilzad informou os representantes xiitas que estão a negociar a composição do próximo Governo de que o Presidente George W. Bush não quer o actual primeiro-ministro no cargo.
Ainda segundo o diário norte-americano, tratou-se da primeira mensagem clara enviada pela Casa Branca de que Al-Jaafari deixou de ser uma alternativa para Bush.
Os Estados Unidos consideram que o primeiro-ministro iraquiano nada fez para desarmar as milícias xiitas e evitar a violência sectária que ameaça mergulhar o país (se é que já não mergulhou) numa guerra civil, diz a imprensa norte-americana.
O facto de um dos principais apoiantes de Al-Jaafari, o radical Moqtada al-Sadr, liderar uma das milícias xiitas e ter homens nas forças de segurança poderá ter ajudado muito à inércia do chefe doGoverno.
A Administração norte-americana aponta, igualmente, o vazio político dos últimos três meses como combustível para a violência, dando aos iraquianos a sensação de que os grupos armados agem na impunidade. Desde as eleições de Dezembro - ganhas em grande maioria pelos partidos xiitas - que os principais movimentos políticos estão a negociar sem êxito os lugares no Governo.
Os partidos xiitas escolheram no mês passado Al-Jaafari para permanecer à frente do Executivo.
Enquanto os partidos tentam adequar os interesses étnicos e religiosos ao Governo que irá liderar o país nos próximos quatro anos, muitos iraquianos têm vindo a fugir da violência sectária.
Segundo dados da Organização Internacional de Migrações, que normalmente trabalha com as Nações Unidas, mais de 25 mil iraquianos fugiram das suas casas por razões étnico-religiosas desde 22 deFevereiro, data do atentado contra a grande mesquita de Samarra.
Xiitas fogem de áreas maioritariamente sunitas e vice-versa, num êxodo que poderá continuar nos próximos meses.
O Ministério dos Deslocados e Migrações iraquianos aponta para um número maior de deslocados: 32 mil.
Na cidade santa de Najaf, as autoridades locais transformaram um hotel vazio num asilo para os xiitas recém-chegados, enquanto preparam tendas para montar um acampamento.
Também na cidade de Nassiriyah, no sul, onde Portugal teve uma força da GNR, os jornais iraquianos dão conta da existência de um acampamento nos arredores para as famílias xiitas fugidas da violência sectária.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O mundo está perigoso

1:06 da tarde  

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