03 abril 2006

Sobre o fanatismo II

"Confesso que em criança, em Jerusalém, eu também era um pequeno fanático com o cérebro lavado. Com ares de superioridade, chauvinista, surdo e cego a qualquer discurso que fosse diferente do poderoso discurso judeu sionista da época. Eu era uma criança que lançava pedras, uma criança da «Intifada» judia. Na verdade, as primeiras palavras que aprendi a dizer em inglês, além do yes e do no, foram British Go Home!, que era o que nós, crianças judias, costumávamos gritar às patrulhas britânicas de Jerusalém enquanto as apedrejávamos. Talvez tenha chegado à altura de que toda a escola, toda a universidade, organize pelo menos um par de cursos de fanatismo comparado, uma vez que surge em todo o lado. Não me refiro apenas às manifestações óbvias de fundamentalismo e fervor cego. Não me refiro apenas aos fanáticos declarados, esses que vemos do outro lado do ecrã da televisão no meio de multidões histéricas que agitam os seus punhos contra as câmaras enquanto gritam slogans em línguas que não entendemos. Não, o fanatismo surge em todo o lado. Com maneiras mais silenciosas, mais civilizadas. Está presente à nossa volta e talvez mesmo dentro de nós próprios."

Amos Oz (Como curar um fanático?)