18 abril 2006

A vacina e a abstinência

A empresa farmacêutica Merck & Company descobriu uma vacina que protege as mulheres contra o vírus do papiloma humano (HPV), a mais comum das doenças sexualmente transmissíveis (mais de metade dos norte-americanos é afectado por ela em alguma altura da sua vida). O vírus é a causa principal do cancro cervical e a vacina tem, segundo os testes, um nível de êxito extremamente elevado. Para que a vacina seja eficaz, as raparigas devem ser inoculadas antes de se tornarem sexualmente activas.
O Governo dos Estados Unidos e o partido republicano opõem-se a que a vacina seja administrada a raparigas, porque tal vai contra os seus programas educativos que defendem a abstinência sexual. Para os conservadores norte-americanos, a presença do vírus do papiloma humano é uma espécie de exemplo de promiscuidade.
Ou seja, o Governo dos Estados Unidos prefere confiar nos milhões de dólares que canaliza para os seus programas educativos "abstinência antes do casamento" do que instituir a vacinação das crianças norte-americanas com uma vacina contra a causa primária do cancro cervical.
Isto apesar destes programas de abstinência serem tudo menos fiáveis no que diz respeito a conseguir atingir o seu principal objectivo: o de evitar que os jovens dos Estados Unidos mantenham relações sexuais antes do casamento.
Quanto às doenças sexualmente transmissíveis: um recente estudo conjunto das universidades de Columbia e de Yale, segundo a revista "New Yorker", dá conta que os estudantes de grupos abstinentes que acabam por ter relações sexuais antes do fim do estudo são tão contagiados como os pertencentes aos grupos promíscuos.
Mesmo assim, a Administração norte-americana prefere manter-se irredutível na sua perspectiva do mundo e não recomendar a vacina contra o vírus do papiloma humano.