23 junho 2006

MMC - a percepção rápida

Quinta-feira, dia 22 de Junho de 2006, bastante para lá das 18:00 horas (digamos, mais próximo das 19:00,) nos corredores da Assembleia da República um senhor, com uns livros na mão encostados ao corpo pelo braço ligeiramente flectido, vagueia à procura de alguma coisa. Chega por fim à sala 7, espreita, hesita, recua, olha à sua volta. Parece perdido. Em silêncio, volta a espreitar, agora através da frincha da porta, enquanto agarra o lábio inferior com o indicador e o polegar em sinal de dúvida. Por fim, decide-se, entra, passos cautelosos, retira a caneta do bolso e assina a folha de presenças colocada em cima da mesa. E avança para uma cadeira. Poucos minutos depois, o mesmo professor, abandona a sala, agora menos hesitante, mas igualmente silencioso. A folha que assinou era a da Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento que, nessa altura, já ouvia há algum tempo o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Fernando Neves, e depois do Professor Manuel Maria Carrilho se retirar continuou ainda a ouvi-lo por por mais uns 15 minutos - a audição estava marcada para as 18:00, mas começou atrasada uma meia-hora. Se eu quisesse atacar o senhor deputado do Partido Socialista (a julgar pelo próprio senhor professor e como sou jornalista, o mais provável é que eu seja mais um dos que nutre um qualquer ódio de estimação em relação a ele) diria que o mesmo tinha ido só assinar o ponto e feito sala um bocadinho para disfarçar, entre outros afazeres. Como não quero atacar ninguém, limito-me a constatar a rapidez com que o ex-ministro da Cultura português conseguiu perceber o que se tinha passado, o que se estava a passar e o que se iria passar. Só depois saíu. Há os comuns mortais e depois há os outros - os eleitos.

P.S. Quando escrevo "os eleitos" não pretendo fazer com isso qualquer trocadilho torpe e óbvio sobre a derrota do senhor professor nas eleições para a Câmara de Municipal de Lisboa.