29 setembro 2006

Superficialidade iconográfica

Apesar de cada vez serem menos aqueles que lêem neste país e menos ainda aqueles que compreendem realmente aquilo que lêem, crescem os laivos novos-ricos dos iletrados, habituados a aproveitar-se da dimensão iconográfica da cultura para a autopromoção despudorada da sua pretensa obra. Um homem pode roubar, enganar, corromper, destruir a paisagem à sua volta para arrecadar mais uns cobres, amealhar mais poder e afastar os outros que lhe podem fazer frente, o que não se pode esquecer, para a sua bem-aventurança pública é de usar as lombadas dos livros, as pinturas nas paredes, as esculturas nas rotundas ou nos parques de poetas... Então, o pobre do Fernando Pessoa, que poucos lêem e muitos citam, é mais explorado que imigrante ucraniana em bar de alterne no sul de Espanha! Agora apareceu um cartão de crédito com o nome de Fernando Pessoa e é razão para perguntar: Quais são os limites? O que tem o poeta a ver com dinheiro de plástico? Não podemos boicotá-los? Insultá-los? Gritar-lhes na cara que é de mau gosto?