29 setembro 2006

Tolerâncias

Notícias de hoje: os seropositivos não podem permanecer na Rússia mais de três meses; um jovem inglês de 13 anos não pôde entrar no autocarro da sua escola no sul da Inglaterra por não ser baptizado. Estamos tão preocupados com a intolerância dos muçulmanos que nos esquecemos das faltas de tolerância que temos à porta...

Alberto João

A Madeira vai ser palco no próximo ano, entre 9 e 12 de Maio mais propriamente, do Congresso Internacional "Jardins do Mundo: Discursos e Práticas".
Meia centena de historiadores, teólogos e filósofos vão discutir a relação "entre o homem e a natureza".
O director regional dos Assuntos Culturais, João Henrique Silva, justificou a realização do evento porque "a Madeira é um jardim".
O jardim é "um sistema aberto de ressonâncias e de interdependências", garantiu o mesmo director.
Que vontade de fazer uns trocadilhos...

Superficialidade iconográfica

Apesar de cada vez serem menos aqueles que lêem neste país e menos ainda aqueles que compreendem realmente aquilo que lêem, crescem os laivos novos-ricos dos iletrados, habituados a aproveitar-se da dimensão iconográfica da cultura para a autopromoção despudorada da sua pretensa obra. Um homem pode roubar, enganar, corromper, destruir a paisagem à sua volta para arrecadar mais uns cobres, amealhar mais poder e afastar os outros que lhe podem fazer frente, o que não se pode esquecer, para a sua bem-aventurança pública é de usar as lombadas dos livros, as pinturas nas paredes, as esculturas nas rotundas ou nos parques de poetas... Então, o pobre do Fernando Pessoa, que poucos lêem e muitos citam, é mais explorado que imigrante ucraniana em bar de alterne no sul de Espanha! Agora apareceu um cartão de crédito com o nome de Fernando Pessoa e é razão para perguntar: Quais são os limites? O que tem o poeta a ver com dinheiro de plástico? Não podemos boicotá-los? Insultá-los? Gritar-lhes na cara que é de mau gosto?

Tortura

De um artigo de opinião de Ariel Dorfman (autor de "A Morte e a Donzela") no diário "El País":

"Não pode este país [Estados Unidos], o mais poderoso do mundo, compreender que quando permite aos seus agentes torturarem um ser indefeso, não só estão a corromper a vítima e o vitimário, mas também a sociedade inteira, todos os que insistem em que não é para tanto, todos os que não querem admitir o que se está a fazer para que eles durmam tranquilamente de noite, todos os cidadãos que não sairam à rua a protestar e a pedir a demissão de qualquer autoridade que tenha sugerido, mesmo sussurrando, que a tortura é inevitável, uma noite escura em que temos de entrar se quisermos sobreviver nestes tempos perigosos?"

27 setembro 2006

Barbie portuguesa

O leilão da colecção de Barbies da holandesa Ietje Raebel em Londres foi um sucesso. A Christie's conseguiu 176 mil euros por uma das mais importantes colecções da boneca criada em 1959 por Ruth e Elliot Handl, mais 23 mil euros do que tinha calculado. Isto apesar de algumas das bonecas não terem alcançado o valor mínimo estimado pela leiloeira, tendo a pior sido mesmo a Barbie portuguesa. A Barbie 5º aniversário em Portugal, de 1989, rendeu apenas 36 euros, quando se esperava que pudesse atingir 150 euros. Se nem conseguimos que invistam nas nossas bonecas é porque este país vai de mal a pior...

26 setembro 2006

Paraguai

Numa homenagem a um amigo de palmo e meio aqui fica a cotização do guarani para hoje: 1 euro = 6.610 guaranis. Obrigado

Darío Silva

Reunia tudo o que tem de bom e mau do futebol uruguaio, principalmente nos últimos anos. A capacidade de deliciar os espectadores, de tratar bem a bola, de marcar golos bonitos, desses para ficar na memória, conjugadas com uma estranha propensão a alhear-se do jogo, a tentar resolver individualmente as coisas que, no futebol, a maior parte das vezes, resultam melhor colectivamente. Darío Silva era capaz, igualmente, como todos os latinos, de se perder em discussões inconsequentes e picardias desnecessárias. O Portsmouth inglês tinha sido a sua última etapa futebolística. Dispensado no final da época passada, com 33 anos e sem clube, o jogador uruguaio passava férias no seu país. No domingo teve um acidente na Rambla de Montevideu - o carro que conduzia embateu a 100 quilómetros por hora contra um poste de iluminação e ele foi impelido pelo ar. Internado no hospital com uma fractura exposta, a dimensão da lesão obrigou os médicos a amputar-lhe a perna para lhe salvar a vida.

22 setembro 2006

O que está verdadeiramente em causa na polémica com Bento XVI

De um artigo de Tariq Ramadan, hoje publicado no "El País":


"Quando os cidadãos são privados dos seus direitos essenciais e da sua liberdade de expressão, não custa nada deixar que libertem a sua ira a propósito de umas caricaturas dinamarquesas ou de umas palavras do Pontífice."

"(...) ao sublinhar a relação privilegiada entra a tradição racionalista grega e a religião cristã, [o papa] tenta estabelecer uma identidade europeia que seria cristã no religioso e grega no que diz respeito à razão filosófica. Dessa forma, o islão, que, pelos vistos, não tem esse tipo de relação com a razão, seria alheio à identidade europeia construída a partir desse legado. Há anos, o então cardeal Ratzinger manifestou a sua oposição à entrada da Turquia na Europa com argumentos similares."

"O papa Bento XVI está a convidar os cidadãos do continente para que sejam conscientes do ineludível carácter cristão da sua identidade, que correm o risco de perder. A mensagem pode ser legítima nestes tempos de crise de identidade, mas é inquietante e quiçá perigosa porque é reducionista em dois aspectos, o enquadramento histórico e a definição da identidade europeia. Isso é que exige uma resposta dos muçulmanos."

"[Os muçulmanos] Devem recusar uma interpretação da história do pensamento europeu que elimina o papel do racionalismo muçulmano, na qual a contribuição árabe e muçulmana fica reduzida à mera tradução das grandes obras de Grécia e Roma. A memória selectiva que com tanta facilidade 'esquece' as decisivas contribuições de pensadores muçulmanos racionalistas como Al Farabi (século X), Avicena (século XI), Averróis (século XII), Al Ghazali (século XII), Ash Shatibi (século XIII) e Ibn Jaldun (século XIV), reconstrói uma Europa falsa, que se engana sobre o seu próprio passado."

"Nem a Europa, nem o Ocidente podem sobreviver enquanto continuem a tratar de nos definir através da exclusão do Outro - o Islão, os muçulmanos - que tememos."

"É possível que o que mais necessita a Europa não seja um diálogo com outras civilizações, mas um autêntico diálogo consigo mesmo, com essas facetas de si própria que se negou a reconhecer durante demasiado tempo e que, ainda hoje, a impedem de aproveitar a riqueza das tradições religiosas e filosóficas que a formam."

"A Europa deve aprender a aceitar a diversidade do seu passado para dominar o forçoso pluralismo do seu futuro."

21 setembro 2006

A-ver-Cuba


Uma imagem de Cuba, cortesia do blog do cubano Alejandro Armengol que pode ser visitado aqui.

Sven Nykvist


O director de fotografia Sven Nykvist, que trabalhou com Ingmar Bergman e com Woody Allen, mas principalmente com o primeiro, morreu aos 83 anos num hospital sueco. Com ele desaparece uma forma de olhar, uma forma de iluminar o mundo num fotograma...

20 setembro 2006

Transparência v Terrorismo

De uma crónica do filósofo eslovaco Slavoj Zizek no "El País" de hoje...

"A ameaça invisível e omnipresente do terrorismo legitima as medidas defensivas demasiado visíveis. A guerra contra o terrorismo distingue-se das precedentes lutas mundias do século XX, como a guerra fria, pelo facto de que, tal como nestas últimas o inimigo estava claramente identificado, como o império comunista realmente existente, a ameaça terrorista é essencialmente espectral, está desprovida de centro visível. A potência que se apresenta como estando continuamente ameaçada e que afirma estar simplesmente a defender-se de um inimigo invisível corre o perigo de se converter num poder manipulador. Podemos realmente confiar nessa potência ou apelar apenas a essa ameaça só para nos impormos uma disciplina e para nos controlarmos? É preciso retirar a seguinte lição: no combate contra o terrorismo, é mais indispensável que nunca que a política de Estado seja democraticamente transparente."

19 setembro 2006

Viagem ao Irão

Regressado a casa depois de uma viagem ao Irão em serviço para a Agência Lusa, aqui deixo um dos textos que escrevi (uma reportagem extensa sairá no próximo dia 28 na revista "Sábado") desde Teerão:

Na República Islâmica doIrão morrer pela pátria ainda é um orgulho arreigado entre as pessoas e a presença do culto dos mártires é visível em cada esquina, apesar da crescente descrença entre os jovens no futuro da revolução.
Mesmo numa época de maior alegria como a que se assinalava no dia 09, a do nascimento do imã Majdi, o imã escondido que um dia regressará para salvar o mundo, os mortos ao serviço da pátria têm presença obrigatória nas festividades.
Durante três dias, a normalmente escura cidade de Teerão engalanou-se de luzes e papéis coloridos, principalmente no sul da capital, onde residem as comunidades mais pobres – um contraste gritante com o norte, situado mais alto na encosta da montanha e na curvados rendimentos.
Mesmo nesta ocasião, em que os pais mostram aos seus filhos as borboletas de luzes que abrem e fecham as asas, os arcos com saudações ao imã, em que as pessoas oferecem a quem passa refrescos e bolos, os retratos emoldurados dos mortos pelo Irão não podem faltar.
O cemitério dos Mártires da Revolução, um enorme campo santo em Behesht-e Zahra, nos arredores de Teerão, é um lugar de peregrinação habitual para milhares de pessoas.
Para as famílias que regularmente comparecem para cuidar da campa dos seus filhos, maridos, tios, primos, e para os outros que chegam para prestar homenagem aos que caíram para manter viva a república que o “ayatollah” Khomeiny fundou em 1979.
No entanto, tendo em atenção que só na guerra contra o Iraque (1980-88) morreram perto de um milhão de pessoas, segundo cifras oficiosas, é natural que a maior parte das famílias iranianas tenham perdido alguém ao serviço da pátria.
Os mártires possuem um lugar privilegiado na iconografia do Irão, com murais, esculturas, pinturas e símbolos dedicadas ao seu culto. Muitos prédios de Teerão exibem de alto a baixo nalguma das suas fachadas laterais rostos de heróis com nome que morreram na guerra.
As suas famílias têm privilégios que não podem ser retirados, levando, por vezes, à ineficiência da máquina estatal (que domina 80 por cento da economia) devido ao elevado número de empregados de muitas empresas – ser familiar de mártir garante emprego vitalício a muitos.
Um diplomata ocidental em Teerão contou-me que um dos hotéis de Isfahan, o principal centro turístico do país, esteve para ser comprado por um investidor estrangeiro que condicionou o negócio à possibilidade de poder reduzir os mais de 3.000 empregados a pouco mais de 300.
Disseram-lhe que sim, mas também lhe passaram uma lista com aqueles que não podiam ser despedidos por serem familiares de mártires e o investidor acabou por desistir do negócio.
Duas das principais unidades hoteleiras de Teerão, situadas na zona norte da cidade, o antigo Sheraton, que hoje se chama Homa e o ex-Hyatt, agora denominado Azadi Grand Hotel, foram nacionalizados depois da revolução e entregues à fundação de apoio aos mártires.
No cemitério de Behesht-e Zahra, o espaço dedicado aos mártires é composto por filas e filas de campas juntinhas quase sem espaço para caminhar entre elas.
Campas rasas em chão de cimento com relicários de alumínio onde figura a fotografia de 30x40 cm do morto. Bandeiras e bandeiras do Irão, imagens do imã Khomeiny, algum ou outro autocolante do Presidente Mahmud Ahmadinejad com a frase: “Vou rezar para que a justiça seja feita”.
Arash Falahatpishe tem 29 anos e tinha três quando o pai morreu numa cidade do Curdistão iraniano invadida pelos iraquianos, para ele, logicamente, o pai “é um herói”, até porque foi isso que sempre lhe disseram.
“Naquele tempo havia valores. Quando ouço falar sobre esse tempo e recordo, quase tremo, mas esse sentimento é muito difícil de explicar às outras gerações”, explica Falahatpishe.
As novas gerações estão mais preocupadas com a vida que com os mortos, apesar de continuarem a visitar a campa dos familiares, como as gémeas Sara e Sude que passeiam pelas alamedas de mão dada com os respectivos namorados.
“Não vimos aqui muitas vezes”, confessam. Não conheceram o tio e a mãe não lhes pediu para que viessem limpar a campa, embora não consigam explicar muito bem porque estão aqui. Talvez porque a calma e a tranquilidade do cemitério, a uma hora em que há pouca gente, permite-lhes desfrutar de um passeio romântico.
Junto a uma das alamedas alcatroadas do cemitério figuram três túmulos que, toscamente em metal verde, procuram imitar a cúpula de uma mesquita com dois minaretes. Um cartaz necrológico dá conta que o pai dos três irmãos mártires que ali jazem morreu este mês, duas décadas depois dos seus filhos.

Transplante de pénis

Os médicos chineses conseguiram efectuar com êxito o transplante de pénis num paciente que tinha ficado com um pénis de um centímetro de longitude depois de um acidente. Apesar do êxito da operação, o paciente de 44 anos, que tinha recebido o pénis de um indivíduo 20 anos mais novo, rejeitou o novo órgão duas semanas depois da operação. Não estaria contente com o tamanho?!