30 junho 2006

Morreu o realizador de "Nove Rainhas"

Um ataque cardíaco durante o sono acabou ontem com a vida do realizador argentino Fabián Bielinski, de "Nove Rainhas" e "El Aura", este último ainda não estreado em Portugal. Bielinsky ganhou os principais prémios do cinema argentino nesta semana. Aqui fica um texto evocatório do realizador publicado hoje no diário "Página/12". Fabián Bielinsky tinha 47 anos.

29 junho 2006

Alkatiri III

Em Fevereiro, já tinha colocado aqui extractos do discurso de Alkatiri na abertura das negociações sobre os recursos do Mar de Timor com a Austrália. Ao ler os extractos desse discurso brilhante, mas se calhar demasiado ingénuo dadas as circunstâncias geoestratégicas de Timor-Leste, e sem ser preciso ser grande matemático, podemos fazer as contas e perceber porque é que a Austrália sempre quis afastar Alkatiri do caminho.

"Pedimos à Austrália para se nos juntar num calendário concentrado, com negociações a realizarem-se todos os meses. Somos a nação mais pobre da Ásia, mas encontraremos os recursos suficientes para suportar este calendário. Pedimos à Austrália, que é o país mais rico da região, para fazer o mesmo. Mas, ironicamente, se a Austrália tiver problemas em organizar os recursos para um calendário de negociações mais comprimido, estamos preparados para ajudar, disponibilizando fundos provenientes da nossa parte actual dos recursos do Mar de Timor."

"A Austrália não é o único país a evitar a jurisdição internacional quando sente que a lei está contra as suas pretensões. A predominância do Direito não deve apenas ter em vista os mais fracos e os mais pobres. As nações mais poderosas deviam ser um exemplo."

"Mas a Austrália está a fazer algo que nenhum outro país fez nestas circunstâncias. Ao mesmo tempo que trava a possibilidade de uma resolução judicial sobre a nossa disputa marítima, a Austrália está unilateralmente a retirar recursos da área disputada."

"A anexação de Timor-Leste pela Indonésia foi ilegal e o fruto de um acto ilegal não pode ser válido. Timor-Leste não pode ser privado dos seus direitos territoriais devido a um crime. E estamos preparados para testar esta proposição em qualquer tribunal internacional escolhido pela Austrália."

"Eu acredito verdadeiramente que os nossos dois países podem resolver a disputa no Mar de Timor, desde que haja vontade política para o fazer. Se não, podemos recorrer à ajuda de amigos mútuos ou procurar outro mecanismo internacional."

Alkatiri II

Um extracto da entrevista ao "Diário de Notícias" do advogado Nuno Antunes, que foi assessor jurídico de Mari Alkatiri nas negociações sobre os recursos do Mar de Timor.

"Que importância tem o petróleo na crise timorense?
Sou avesso a teorias da conspiração. Agora, tenho é poucas dúvidas de que as declarações de apoio a Xanana Gusmão e a Ramos-Horta por parte da Austrália em geral têm muito a ver com o facto de o primeiro-ministro timorense ser quem é.
A Austrália não perdoa o acordo que Mari Alkatiri conseguiu obter...
Não, não, não! O que está em causa são os projectos que Mari Alkatiri tinha para o futuro...
O que é quer dizer com isso?
Bem gerido, o petróleo permitirá a Timor-Leste colocar-se numa situação de relativa independência perante a Austrália e a Indonésia. Especialmente se o gasoduto do Greater Sunrise for construído para o lado timorense, e não para Darwin, como os australianos pretendem..."

Alkatiri

Quando em Fevereiro esteve em Lisboa para lançar o seu livro “Timor-Leste – O Caminho doDesenvolvimento” (Lidel), uma colecção de 42 discursos como chefe do Governo, Mari Alkatiri aproveitou para lembrar que quando aceitou ser primeiro-ministro o fez disposto a assumir medidas impopulares, mas necessárias, e a governar não para ser reeleito, “mas para criar um Estado”.
“A prioridade foi dar vida e cultura institucionais ao Estado”, embora isso não tivesse sido “entendido por quem queria soluções rápidas”, os mesmos que “estavam habituados às oferendas do Governo de Suharto (Presidente indonésio durante a ocupação)”, disse Alkatiri.
Foi de certa forma para ultrapassar esse problema que, a determinada altura, o Governo timorense resolveu “instituir a governação aberta”, para “começar a conquistar a compreensão do povo” e explicar o funcionamento e a importância da Administração Pública, acrescentou.

27 junho 2006

Quando a Rosa morde o segurança


Confesso que o senhor e o seu grupo nunca me interessaram, mas a notícia que o dito foi preso por morder a perna de um segurança no hotel onde estava hospedado em Estocolmo era demasiado deliciosa para a deixar passar. Ao que parece, Axl Rose, líder dos Gun's'Roses, foi detido hoje de manhã na capital sueca (onde actuou ontem à noite) depois de alegadamente ter atacado um segurança e causado estragos no hotel onde estava hospedado. Foi libertado depois de pagar uma multa de 40.000 coroas suecas (4340 euros), além de 10.000 coroas (1100 euros) ao segurança mordido e pôde sair em liberdade com o cadastro limpo. Uma porta-voz da polícia, Towe Hagg, disse à imprensa que Axl Rose estava embriagado quando se envolveu em confrontos com o segurança apesar de não serem ainda oito da manhã: "Estava demasiado intoxicado para poder ser interrogado de seguida". De acordo com os tablóides suecos, o vocalista dos Gun's'Roses estava a importunar uma mulher no lobby do hotel quando o segurança interveio. Não contente com isso, Axl Rose resistiu à prisão e teve de ser levado para a esquadra algemado.

Nubas, Carlos Narciso, repórteres, Leni Riefenstahl e o Discóbolo


Foi ao ler este post de Carlos Narciso, no seu sempre interessante blog (Escrita em Dia) de memórias de 25 anos de reportagens (com o estado em que está o jornalismo, cada vez haverá menos jornalistas portugueses a poderem desfiar - verdadeiras e/ou interessantes - memórias de reportagem) que me lembrei das fotografias dos nubas tiradas por uma das maiores realizadoras da história do cinema, ostracizada depois da guerra por ter feito filmes (bons) utilizados como propaganda pelo regime vencido na II Guerra Mundial. O regime foi bem vencido, Leni Riefenstahl é que não merecia ter sido arrastada com ele para os abismos.

P.S. Podem falar-me no culto do corpo na obra de Riefenstahl como exemplo de que a artista partilhava dos ideais arianos do III Reich, mas também posso contrapôr que o culto do corpo já existia na Grécia Antiga (e a pedofilia era um acto socialmente aceite) e não vejo ninguém a pôr em causa a arte de Miron de Eleuteras, o autor da célebre escultura do Discóbolo!

Depressões futebolísticas


Tem 35 anos e, acabada a carreira de futebolista, Gianluca Pessotto assumira em Maio um lugar na direcção do seu clube, a Juventus. Apesar do seu nome não estar envolvido no recente escândalo de compra de resultados de jogos, que pode levar o clube de Turim para a 2ª Divisão, Pessotto ter-se-á tentado suicidar saltando para o vazio desde o segundo andar da sede do clube com um rosário na mão. O seu estado é grave, mas estável, depois de ter sido operado a múltiplas fracturas nos membros inferiores e na pélvis. As agências dizem que Pessotto estava a ser tratado de uma depressão.

23 junho 2006

Morreu o jornalista que nos habituámos a ler na "Grande Reportagem"


Para quem foi leitor da "Grande Reportagem" durante vários anos, no tempo de Miguel Sousa Tavares, diga-se, ler os textos do sueco Martin Adler (operador de câmara do Channel Four) tornou-se um hábito. Repórter de guerra herdeiro dos melhores, andou por este mundo e outro, nos lugares mais quentes da terra, onde a lei e a ordem eram postas em causa e a vida não valia nada ou quase nada. Os repórteres de guerra são assim, trabalham sem rede (os verdadeiros, não aqueles que relatam manifestações no Paquistão e regressam a Portugal como tendo estado num palco de guerra perigosíssimo), pesando a cada passo a importância da notícia e da vida, para ver até onde podem ir sem cair na loucura. Martin Adler morreu hoje em Mogadíscio, na Somália, onde filmava para o Channel Four uma manifestação da União dos Tribunais Islâmicos que assumiu o controlo da cidade na semana passada. Um desconhecido aproximou-se por trás e disparou-lhe um tiro nas costas à queima-roupa, provocando-lhe morte imediata. Martin Adler tinha 47 anos.

Uma estrela com mistura


Briolette Kah Bic Runga nasceu em 1976 e é a filha de um soldado maori neo-zelandês e de uma cantora de cabaret chinesa. Na Nova Zelândia é já uma estrela da pop com o nome artístico de Bic Runga e uma carreira de dez anos, mas agora está disposta a conquistar o mundo. Os olhos rasgados num rosto com o tom mais escuro dos maoris dão-lhe um ar exótico que os promotores de hoje adoram comercializar e Bic já se instalou em Londres para estar mais próximo do centro do mundo discográfico. Não se estranhe, portanto, que dentro de algum tempo todos aqueles que ignoram agora o seu nome estejam a trautear por aí as suas canções.

MMC - a percepção rápida

Quinta-feira, dia 22 de Junho de 2006, bastante para lá das 18:00 horas (digamos, mais próximo das 19:00,) nos corredores da Assembleia da República um senhor, com uns livros na mão encostados ao corpo pelo braço ligeiramente flectido, vagueia à procura de alguma coisa. Chega por fim à sala 7, espreita, hesita, recua, olha à sua volta. Parece perdido. Em silêncio, volta a espreitar, agora através da frincha da porta, enquanto agarra o lábio inferior com o indicador e o polegar em sinal de dúvida. Por fim, decide-se, entra, passos cautelosos, retira a caneta do bolso e assina a folha de presenças colocada em cima da mesa. E avança para uma cadeira. Poucos minutos depois, o mesmo professor, abandona a sala, agora menos hesitante, mas igualmente silencioso. A folha que assinou era a da Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento que, nessa altura, já ouvia há algum tempo o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Fernando Neves, e depois do Professor Manuel Maria Carrilho se retirar continuou ainda a ouvi-lo por por mais uns 15 minutos - a audição estava marcada para as 18:00, mas começou atrasada uma meia-hora. Se eu quisesse atacar o senhor deputado do Partido Socialista (a julgar pelo próprio senhor professor e como sou jornalista, o mais provável é que eu seja mais um dos que nutre um qualquer ódio de estimação em relação a ele) diria que o mesmo tinha ido só assinar o ponto e feito sala um bocadinho para disfarçar, entre outros afazeres. Como não quero atacar ninguém, limito-me a constatar a rapidez com que o ex-ministro da Cultura português conseguiu perceber o que se tinha passado, o que se estava a passar e o que se iria passar. Só depois saíu. Há os comuns mortais e depois há os outros - os eleitos.

P.S. Quando escrevo "os eleitos" não pretendo fazer com isso qualquer trocadilho torpe e óbvio sobre a derrota do senhor professor nas eleições para a Câmara de Municipal de Lisboa.

22 junho 2006

Mundo descafeínado


Os protestos desnudos da PETA (People for Ehtical Treatment of Animals) já são tão comuns que se tornaram quase um folclore da sociedade moderna. As fotografias acabam por aparecer na imprensa como mais um fait-divers, em vez de reforçar a mensagem que os activistas dos direitos dos animais pretendem transmitir. A imagem acima, da agência espanhola de notícias EFE, é do protesto de hoje da PETA em Santiago do Chile contra as corridas de touros. A imagem seria igual a tantas outras, não fosse o pormenor: num país como o Chile, conservador à moda antiga, onde a Igreja Católica ainda mantém quase intacto o seu poder na sombra, o facto da modelo aparecer de mamilos cuidadosamente tapados com um adesivo da cor da pele mostra que os protestos também podem ser igualmente conservadores. Protestar sim, mas com respeitinho. Até os protestos estão cada vez mais politicamente correctos - que mundo mais descafeínado!

20 junho 2006

Sorrisos


Não é só o Mundial a interferir na menor regularidade de actualização deste blog, mas também. Um pequeno apontamento. A foto é do treino da Austrália e a senhora, pés descalços sobre a relva, caneta em punho e alegria, é uma fã entusiasmada que haveria de conseguir uma série de autógrafos dos "aussies". Mas o que a foto tem de interessante (de Torsten Blackwood - AFP/Getty Image) nem sequer é a senhora (não é nenhum comentário machista, nem estético), mas o senhor que corre atrás dela. O colete cor-de-laranja identifica-o como "steward", ou seja, assistente. Mas o seu sorriso é o melhor da foto. Aquele sorriso diz tudo: o homem jamais alcançará a moçoila porque na verdade ele não quer alcançar a moçoila, quer é desfrutar do momento. De correr atrás de uma moçoila descalça e de poder correr mundo através de uma fotografia. Sorrisos para mais tarde recordar.

19 junho 2006

Chico Buarque

Chico Buarque tem disco novo ("Carioca") e anda pelo Mundial da Alemanha a ver futebol. Deu uma entrevista ao "El País" de hoje: aqui estão alguns excertos.

"Dedicar o disco ao Rio de Janeiro foi planeado?
Percebi que a cidade estava muito presente quando o estava a terminar e decidi pôr-lhe esse título. Carioca era a minha alcunha quando viva em São Paulo, por isso é que digo que é uma homenagem a São Paulo.
Não parece nostálgico do Rio de outro tempo?
Falo do Rio de agora, com a sua beleza e as suas feridas e de esses subúrbios que não contam para nada. Quando digo que os subúrbios não aparecem no mapa, estou a falar a sério. Fui comprar um mapa da cidade perto de minha casa e só tinha a zona sul e o centro até ao Maracanã. Algumas favelas não estão nas colinas e são grandes cidades-dormitório, sem qualquer encanto, mas aín nasceu o choro, o samba...
A sua produção parece cada vez menos prolífica...
Tornei-me menos entusiasta e mais exigente. O meu tempo de criação aumentou. O que é um perigo, porque o tempo que me resta de vida vai-se reduzindo à medida que o tempo de criação vai aumentando cada vez mais, assim que não sei... Não sei quantos livros ou discos tenho ainda pela frente, mas acho que serão poucos...
A última canção do disco, "Imagina", é uma valsa de Antônio Carlos Jobim, talvez o mais carioca dos grandes compositores.
Lembrei-me dessa canção que sempre tive vontade em gravar e que, por uma razão ou outra, nunca entrava nos discos. Escrevi a letra em 1983 para o filme "Para Viver um Grande Amor" (Miguel Faria Jr.). Muitos anos depois, quando ele (Jobim) já tinha morrido, soube que tinha sido a sua primeira composição. Escreveu-a em 1947 para uma classe de piano e a professora, ao ouvi-la, disse-lhe: 'Você não vai ser pianista, não, vai ser compositor.'"

12 junho 2006

"O petróleo de Chávez está a manter Fidel Castro"

Entrevista com o dissidente cubano Carlos Franqui feita para a Agência Lusa e colocada em linha no sábado passado:

O jornalista e escritor CarlosFranqui, um dos principais dissidentes do regime cubano, defendeu hoje, em entrevista à Agência Lusa, que o regime de Fidel Castro só semantém graças ao petróleo de Hugo Chávez.
“O petróleo de (Hugo) Chávez é que mantém Fidel Castro neste momento”, disse Carlos Franqui, que se encontra de visita a Portugal.
Com a ajuda do petróleo mais barato fornecido pela Venezuela, Fidel Castro vai mantendo em pé um regime que está afundado “numa crise muito grande”, explicou o antigo director da Rádio Rebelde, que durante a luta contra a ditadura de Fulgencio Batista emitia a partir da Sierra Maestra. “A influência de Chávez está a fazer com que Fidel esteja a afastar Raúl Castro (o irmão e até há pouco tempo considerado o seu sucessor natural) no poder, a favor do senhor Roque que lidera uma ofensiva contra o Estado com a ajuda de 30 mil jovens analfabetos”, disse aquele que também foi director jornal clandestino dos rebeldes cubanos: Revolución.
O “senhor Roque” é o ministro de Negócios Estrangeiros, Felipe Pérez Roque, “jovem” de 41 anos que está por trás da ofensiva do governo cubano contra o mercado negro e a economia paralela no país e que usa para isso um exército de “voluntários” defensores da Revolução, como são denominados pelo regime os 30 mil cubanos recrutados para a tarefa. Para Carlos Franqui, o facto de haver “uma crise muito grande em Cuba” está a fazer o governo “temer que haja uma explosão social”, daí o aumento da repressão nos últimos meses.
“Os cubanos são obrigados a viver com menos de um dólar por dia e a caderneta de racionamento só dá para 15 dias. É, por isso, que em Cuba não há cães, nem gatos nas ruas, porque os cubanos se viram obrigados a comê-los. Tal como comeram os animais do jardim zoológico”, declarou Franqui.
“Até há o hábito de cortar as cordas vocais aos porcos para evitar que guinchem quando estão a ser roubados”, disse ainda.
Quem sofre também com a situação são os dissidentes internos: “A repressão é muito grande e os opositores pacíficos já não podem sequer sair de casa e até lhes cortaram os telefones para que não possam comunicar com o exterior”, acrescentou.
No meio desta crise profunda, de acordo com Franqui, chegou a notícia a Cuba de que a revista norte-americana Forbes tinha incluído Fidel Castro na lista dos homens mais ricos do mundo.
Segundo Franqui, a notícia não terá sido “uma surpresa para os cubanos”, pois estão habituados a que Cuba seja “uma quinta” e Fidel Castro seja “o dono dessa quinta”.
O regime cubano “tem hoje muito do que seria a negação de uma revolução: a revolução deveria ser a criação e não a destruição”, sintetizou.
Carlos Franqui, de 84 anos, que acabou de lançar em Espanha o seu livro de memórias “Cuba, la Revolución: Mito o Realidad?”, saiu de Cuba para o exílio em 1968 e nunca mais regressou.
Actualmente, reside em Porto Rico, mas continua a trabalhar em prol da mudança no seu país.
“Sei que um dia Cuba será livre. Não sei se estarei vivo quando isso acontecer, mas, como disse Dante Alighieri, ‘duas vezes estive exilado e não sei se regressarei vivo, mas sei que algum dia o meu lado triunfará’”, confessou.
Apelidando de “tragédia” o facto de ter sido convidado por Fidel Castro para participar numa revolução que lhe “destruiu o país”, Carlos Franqui veio a Portugal para se encontrar com alguns políticos portugueses e alertá-los para a situação cubana.
“É importante que quem luta em Cuba contra o regime sinta a solidariedade dos portugueses com a sua luta. O facto de se denunciarem em Portugal os crimes do regime cubano ajuda muito a luta pela liberdade”, explicou.
“Cuba, la Revolución: Mito o Realidad?” foi editado em Espanha e proximamente sairá em Itália.
Em relação a uma edição portuguesa, Franqui tem “esperança” de que tal possa vir a acontecer.
“Já tenho um livro traduzido em português, mas no Brasil, trata-se de ‘Retrato de Família’, espero que este possa ser o primeiro a sair em Portugal”, afirmou.
“Retrato de Família com Fidel” saiu no Brasil com a chancela da editora Record em 1981.

A ditadura do politicamente correcto

A ditadura do politicamente correcto volta a atacar e, mais uma vez, contra o escritor austríaco Peter Handke, alvo da censura da esquerda bem-pensante por ser (Oh, céus!) pró-sérvio e resgatar a figura de Slobodan Milosevic. Desta vez, a questão teve a ver com o prémio alemão Heinrich Heine, transcrevo aqui a notícia da Lusa (de Raul Malaquias Marques) sobre o assunto:

"O escritor austríaco Peter Handke renunciou ao prémio Heinrich Heine, que lhe foi atribuído por um júri independente alemão, na sequência da polémica suscitada pela decisão de vários partidos políticos de bloquearem a dotação económica do galardão. Os partidos em questão fundamentaram o bloqueio na posição pró-sérvia do escritor. Handke deu a conhecer a sua decisão numa carta aberta ao presidente da câmara de Dusseldorf, o democrata-cristão Joachim Erwin, na qual assegura não querer que ele ou a sua obra se vejam expostos “às grosserias” de dirigentes partidários.
O dramaturgo e romancista austríaco afiança que, apesar de toda a polémica, continua disposto a visitar o túmulo de Heine, no cemitério parisiense de Montmartre.
Erwin, por seu lado, deixou claro que lamenta a decisão de Handke de renunciar ao galardão, embora a respeite, depois da “campanha de difamação” de que o autor tem sido alvo nas últimas semanas.
“Este tipo de estigmatização e estas calúnias não têm nada a vercom uma cidade tolerante e aberta” como Dusseldorf, afirma o autarca num comunicado.
Em finais de Maio, o partido social-democrata (SPD), Os Verdes eo Partido Liberal (FDP) anunciaram o seu propósito de impedir a entrega a Handke do prémio Heinrich Heine bloqueando a dotação deste (50.000 euros).
O júri do prémio distinguiu Handke pela sua “obstinada busca da verdade aberta” e a sua defesa, “sem concessões à opinião pública”, de uma perspectiva poética própria do mundo, obstinação que entende constituir uma característica que aproxima o galardoado de Heinrich Heine (1797-1856).
O anúncio da concessão do prémio desencadeou críticas em quadrantes políticos e culturais pela posição pró-sérvia de Handke durante o conflito dos Balcãs. Recentemente, a Comédie Française retirou a obra de Handke“Spiel vom Fragen” da programação prevista para 2007, por o autor ter pronunciado um discurso no enterro do presidente sérvio Slobodan Milosevic.
O Prémio Heine é um dos de mais alto valor pecuniário da Alemanha. A sua entrega estava prevista para 13 de Dezembro.
Já em 1996 Handke “agitara as consciências” na Europa com o seu ensaio “Eine winterliche Reise zu den Flussen Donau, Save, Morava un Drina”, em que afirmava terem sido os sérvios as verdadeiras vítimas da guerra balcânica."

O politicamente correcto encerrou a democracia num canto e aí, de faca na carótida, ameaça a liberdade de pensamento, bem como encafua alguma da esquerda num beco bafiento de onde esta tem problemas de consciência para sair.
Não bastava salientar a estas cabecinhas pensantes que obra e autor são duas coisas distintas (há quem seja capaz de sublimar a beleza em pedaços de prosa de suprema intensidade e insultar quem está a sua volta com atitudes pessoais vergonhosas) é preciso salientar que se as brigadas do politicamente correcto tivessem actuado desta forma ao longo da história, hoje a cultura universal teria perdido muitas das suas vozes, incluindo esse poeta de grandeza universal que é Fernando Pessoa, cujas posições políticas inviabilizariam a representação de qualquer dos seus textos pela Comédie-Française ou a sua escolha para o prémio Heinrich Heine.