23 fevereiro 2006

Epitáfio

Este foi o epitáfio que Saadat Hasan Manto escreveu para o seu túmulo e a sua família, para evitar actos de vandalismo, preferiu não colocar:

Em nome de Deus, o Compassivo, o Misericordioso
Epitáfio
Aqui jaz Saadat Hasan Manto e com ele se enterram os segredos e mistérios da arte de escrever contos... Sob toneladas de terra ele jaz, ainda a questionar-se quem dentre os dois é o maior escritor de contos: Deus ou ele.
Saadat Hasan Manto
18 de Agosto de 1954

"Suspeita-se que era um sismo" que abalou a noite de Maputo

Um excelente texto do delegado da Agência Lusa em Maputo, Luís Andrade de Sá, sobre o sismo em Moçambique.

Maputo despertou hoje de uma noite mal dormida após uma rara experiência com um sismo de forte intensidade que não terá causado vítimas mas assustou a população, levando-a a encher as ruas durante toda a madrugada.
Os "chapas", as carrinhas informais de transporte público, andam a meio gás, as escolas estão claramente desfalcadas e as conversas giram sobre a noite em que o habitual decoro da capital moçambicana foi desfeito por uma multidão que se juntou nos passeios em camisas de noite, trajes interiores ou apenas com um lençol a cobrir o corpo.
A partir das 00:30, hora a que se registou o primeiro abalo, e até de manhã, a cidade de cimento e a cidade de caniço eram apenas uma e o receio que o terramoto provocou só era comparável à emoção de ser a primeira vez que a maioria travava conhecimento com os abalos sísmicos.
"Foi horrível o sismo a vir por ali acima. Quer dizer, suspeita-se que era um sismo", afirmou, com cautela, um morador de um dos andares mais altos da cidade.
O tom de imprecisão prosseguiu nos estúdios de alguns canais de televisão que abriram as emissões assegurando que o sismo tivera uma intensidade de "7,5 por cento", ou reclamando contra o facto de Moçambique não dispor de meios que permitem prever estes fenómenos.
O longo silêncio das autoridades ampliou as informações erradas e abriu caminho a boatos de todo o género, incluindo os que garantiam existir um horário para as inevitáveis réplicas do sismo.
"Disseram-me para esperar aqui em baixo durante 20 minutos por causa da réplica mas não posso ficar aqui toda a noite, alguém tem de fazer alguma coisa", queixava-se outra moradora, entre uma multidão de rapazes em tronco nu e mulheres vestidas com o que tinham à mão quando o primeiro abalo as tirou de casa.
A noite encheu-se de luzes de câmaras e de repórteres televisivos que mostraram aprender depressa com os exemplos que chegam de fora. "Exactamente sabe o que se passou hoje à noite?". "O que sentiu? Teve medo?". "O que estava a fazer?". A maioria estava na cama mas é impressionante o número de homens e mulheres que revelaram que se tinham deitado "depois do jogo" e que estariam ainda a "ruminar" nas incidências do Chelsea-Barcelona quando o violento balouçar da cama ou do candeeiro as tornou irrelevantes.
Informações vindas do exterior, com a chancela da credibilidade de um centro de monitorização de sismos norte-americano, colocavam o epicentro do abalo numa área a norte de Maputo e a sudoeste da Beira, cidades que distam entre si mais de 1200 quilómetros.
Mais tarde, foi determinado que o sismo ocorreu junto da localidade de Espungabera, que também usa como grafia Chipungabera, numa zona da província de Manica junto da fronteira como o Zimbabué.
Apenas de manhã veio a primeira informação, não oficial, de que, apesar da sua violência, o abalo não provocou vítimas mortais na localidade, que fica a algumas horas de carro da capital provincial, Chimoio.

A grinalda

Mais um conto do paquistanês Saadat Hasan Manto traduzido do inglês:

"A multidão virou subitamente à esquerda, a sua ira agora dirigida para a estátua de mármore de Sir Ganga Ram, o grande filantropista hindú de Lahore. Um dos homens manchou a cara da estátua com alcatrão. Outro fez uma grinalda de sapatos e estava quase a colocá-la em volta do pescoço do grande homem quando a polícia avançou, a disparar as armas.
O homem com a grinalda de sapatos foi atingido, tendo sido levado para o Hospital Sir Ganga Ram nas proximidades."

Nova crónica

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21 fevereiro 2006

Proposta perdida

Deixo aqui a tradução (do inglês) de um pequeno conto de Saadat Hasan Manto (1912-1955), considerado o pai da literatura em língua urdu (que se fala no Paquistão) e muitas vezes julgado como obsceno, chama-se “Proposta Perdida”:

“Os dois amigos escolheram finalmente a menina entre a dúzia que lhes tinham mostrado. Custava 42 rupias e trouxeram-na para casa.
Um deles passou a noite com ela.
– Como é que te chamas?, perguntou-lhe.
Quando ela lhe contou, ficou siderado.
– Mas, disseram-nos que eras da outra religião.
– Mentiram, respondeu ela.
– Aqueles bastardos enganaram-nos!, gritou, venderam-nos uma rapariga da nossa própria religião. Quero o meu dinheiro de volta!”

20 fevereiro 2006

Liberdade de expressão

A condenação do historiador David Irving por negar o Holocausto é mais uma acção questionável da justiça Ocidental. A liberdade de expressão é uma das conquistas sociais mais importantes da nossa sociedade e, como tal, deve ser defendida com unhas e dentes perante os avanços que de todos os lados surgem para a conter, compactar, limitar, margear. A nossa liberdade de emitir opiniões não deve ser caucionada pelo nossa visão, o nosso gosto, a nossa percepção, o nosso entendimento. A liberdade de expressão tanto me permite a mim criticar o meu Governo, a religião dos outros ou como não ir com a cara feia daquele senhor que um dia ía eu meio atravessado por uma noite de insónia se sentou no único lugar vago na carruagem do metropolitano. Condenar David Irving por negar uma evidência, não condena apenas um proto-fascista e historiador revisionista, condena-nos a todos. Sou frontalmente contra tudo aquilo em que acredita David Irving, provavelmente sentir-me-ia melhor perto de uma doninha fedorenta do que a seu lado em qualquer causa, mas não admito que o metam na prisão só por acreditar naquilo que acredita. Porque também não quero que me metam na prisão por ser ateu, apartidário, cínico, descrente social e um tanto ou quanto anarquista. Se Irving nega o Holocausto deve estar no seu direito, como deve ser meu direito não concordar com nada do que ele diz.

Morte de Cabrera Infante

Amanhã faz um ano que morreu o escritor cubano Guillermo Cabrera Infante.

Um texto evocador:

Viveu quase 40 anos no exílio. Na sua casa de Londres, Guillermo Cabrera Infante empenhou todas as forças em manter viva uma cidade não coberta pelas ruínas da Revolução. Com a sua morte, derrotado no braço de ferro com o ditador que o expulsou, desaparece para sempre essa Havana livre, nocturna e faladora.

Para ler o texto na íntegra clicar aqui.

16 fevereiro 2006

Nova crónica

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15 fevereiro 2006

Xanana Gusmão

No discurso de apresentação do livro de Mari Alkatiri em Díli, a 26 de Novembro, Xanana Gusmão disse:

“Esta obra reflecte como um ponto alto de governação as negociações sobre o Tratado do Mar de Timor, pois este poderá ser o meio mais viável para tornar o país economicamente independente num futuro próximo. As negociações têm sido duras e o primeiro-ministro tem-se mostrado eficaz, como, por exemplo, ao optar pela solução mais pacífica em detrimento do litígio com a Austrália, o que atrasaria todo o processo, em vez de fazer entrar as receitas da exploração dos recursos petrolíferos e do gás natural do Mar de Timor nos cofres do país no mais curto espaço de tempo”.

Alkatiri Timor-Leste

O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, está em Portugal para lançar a 2ª edição actualizada do seu livro "Timor-Leste - O Caminho do Desenvolvimento", uma colecção dos discursos como chefe do Governo desde 2001. O livro é bem interessante e não resisto a citar aqui partes de um discurso (brilhante) na abertura das negociações com a Austrália sobre o petróleo do Mar de Timor.

"Pedimos à Austrália para se nos juntar num calendário concentrado, com negociações a realizarem-se todos os meses. Somos a nação mais pobre da Ásia, mas encontraremos os recursos suficientes para suportar este calendário. Pedimos à Austrália, que é o país mais rico da região, para fazer o mesmo. Mas, ironicamente, se a Austrália tiver problemas em organizar os recursos para um calendário de negociações mais comprimido, estamos preparados para ajudar, disponibilizando fundos provenientes da nossa parte actual dos recursos do Mar de Timor."

"A Austrália não é o único país a evitar a jurisdição internacional quando sente que a lei está contra as suas pretensões. A predominância do Direito não deve apenas ter em vista os mais fracos e os mais pobres. As nações mais poderosas deviam ser um exemplo."

"Mas a Austrália está a fazer algo que nenhum outro país fez nestas circunstâncias. Ao mesmo tempo que trava a possibilidade de uma resolução judicial sobre a nossa disputa marítima, a Austrália está unilateralmente a retirar recursos da área disputada."

"A anexação de Timor-Leste pela Indonésia foi ilegal e o fruto de um acto ilegal não pode ser válido. Timor-Leste não pode ser privado dos seus direitos territoriais devido a um crime. E estamos preparados para testar esta proposição em qualquer tribunal internacional escolhido pela Austrália."

"Eu acredito verdadeiramente que os nossos dois países podem resolver a disputa no Mar de Timor, desde que haja vontade política para o fazer. Se não, podemos recorrer à ajuda de amigos mútuos ou procurar outro mecanismo internacional."

14 fevereiro 2006

Julgamento de Saddam

O julgamento de Saddam Hussein é uma farsa. Os americanos fingem que aquilo é um verdadeiro julgamento, Saddam Hussein finge que está indignado afirmando-se legítimo Presidente do país (como se ele não tivesse chegado ao Poder através de um golpe sangrento!) e nós lá vamos fingindo que estamos a ver a justiça a ser aplicada. Mais um episódio da mal amanhada guerra que os Estados Unidos tanto quiseram e tão pouco prepararam.

Novidades de artista

O escritor Gonçalo Cadilhe estava a viver na Casa do Artista do Funchal para terminar um livro que está a escrever e cujo assunto desconheço. Estava a viver, porque o mesmo Governo Regional da Madeira que lhe concedeu o privilégio de viver na Casa do Artista (com que critérios?) decidiu agora correr com ele porque ele não soube ficar calado. É que Alberto João Jardim apeteceu-lhe passar o seu aniversário na Casa do Artista (não encontrou outro local consentâneo com a sua condição de artista para fazer a festa) e desalojou por um dia o dito escritor colocando-o no hotel da Calheta (a expensas do Governo - 58 euros o quarto mais barato). Quando Cadilhe quis regressar ao pouso criativo, bateu com o nariz na porta, porque o Governo resolveu que não queria na Casa do Artista um artista que não sabia estar calado.
O problema principal não é a forma arbitrária como o Governo Regional gere a Casa do Artista, é que o Presidente do Governo Regional da Madeira não considera uma aberração que ele possa usar a Casa do Artista para celebrar o seu aniversário só porque assim o deseja, como se a Casa do Artista fosse dele, como se o Governo fosse ele, como se a Madeira lhe pertencesse! Um verdadeiro artista!

13 fevereiro 2006

Coisa de educação

Em 1999, num jogo da FA Cup, o Arsenal marcou um golo numa jogada em que não devolveu a bola ao adversário depois de um jogador seu ser assistido. Estava em causa a passagem na eliminatória. Mesmo assim, em nome do "fair play", o jogo contra o Sheffield United foi repetido e o nigeriano Nwanko Kanu pediu desculpas publicamente pelo facto de ter marcado o golo. Ontem, o Benfica, nem sequer precisava de mais um golo, não tinha qualquer dificuldade para estar a vencer o pobre Penafiel, mesmo assim, todo o Estádio da Luz festejou, incluindo os jogadores benfiquistas, um golo que foi uma vergonha. Com um adversário no chão lesionado, que o brasileiro Léo quase atropelou para fazer a assistência, com o guarda-redes do Penafiel a gesticular para que o desafio fosse interrompido para que o seu companheiro fosse assistido, o Benfica desonrou a sua história só para marcar mais um golo. E não serve a desculpa de que também os jogadores do Penafiel não atiraram a bola para fora porque estes estavam de costas para o seu companheiro, os benfiquistas não. Estavam de frente, viram o jogador no chão, quase lhe passaram por cima e nada. Festejaram como se fosse uma conquista, aquilo que não passou de desonra. Há vitórias que são piores do que derrotas, há gestos que valem mais do que taças. Há coisas que se aprendem...

09 fevereiro 2006

Egos

Como político, Freitas do Amaral é melhor dramaturgo; como escritor de peças de teatro, é melhor político. Estamos perante o caso sério de um ego incompatível com a realidade. Ou a realidade ou o ego do ministro estão seriamente equivocados! O caso não conteria qualquer drama, não fosse dar-se o caso de este ser o chefe da diplomacia portuguesa. No entanto, pensando no nível que a nossa diplomacia atingiu, talvez cheguemos à conclusão que até é melhor que seja ministro, assim, pelo menos, não tem tempo para escrever peças de teatro.

Nova crónica

Está disponível uma Nova História do Fim do Mundo. Pode aceder por aqui ou pelo link ao lado.

07 fevereiro 2006

Que se lixem as caricaturas!

Capa da mais recente edição especial da "Vanity Fair".

OPA hostil

A relação acabou quando ele lhe disse que estava a pensar efectuar uma OPA hostil da colega de trabalho.

03 fevereiro 2006

Vai mas é morrer longe II

Ainda sobre o talentoso fingidor, vale a pena ler este artigo do escritor Rodrigo Fresán.

Vai mas é morrer longe


Há um senhor nos Estados Unidos que sonha em fazer de morto no cinema. Aos 47 anos e com seis filhos, ele confessa não ter dotes de Robert de Niro, mas gostaria muito que Hollywood olhasse para o seu droap dead talent. Se alguém estiver interessado pode aceder por aqui.

Petróolicos Anónimos

Che

Benicio del Toro no papel de Che Guevara no filme que Steven Soderbegh está fazer sobre o guerrilheiro argentino que foi ministro em Cuba e morreu na Bolívia.

Ainda as caricaturas

Os pedidos de desculpas, as lamentações, os adjectivos de imprudentes dirigidos aos jornalistas e jornais que publicaram as caricaturas, sucedem-se a um ritmo vertiginoso no Ocidente. Os ecos vociferantes provenientes dos países árabes levam os Governos, as instituições, as organizações, os cidadãos a saltarem a terreiro para põr água na fervura com um ligeiro (ou mais acentuado) curvar perante os muçulmanos indignados.
Quanto mais nos encolhermos frente à chantagem das ruas árabes, quanto mais nos apressarmos a pedir desculpas por pensar de forma livre, mais difícil se torna a reforma do mundo islâmico. Os nossos pedidos de desculpas para acalmar os vociferantes, encostam à parede as vozes moderadas que existem no islamismo. Estamos a prestar um mau serviço à causa do Islão moderado, fornecendo lenha para queimar as vozes discordantes nos países islâmicos. Como se sentirá hoje um imã, um académico, um estudante muçulmano que defenda a liberdade de expressão, a liberdade de opinião, a liberdade religiosa, o laicismo - muitas vezes arriscando o próprio pescoço - quando o Ocidente, costas dobradinhas e queixo quase tocando o chão, pede desculpas aos que queimam bandeiras, insultam, ameaçam, usam armas como argumento? Eu se fosse um intelectual muçulmano moderado sentir-me-ia hoje muito triste.

P.S. Vergonha maior ainda ao saber que o director do "France Soir" foi despedido por ter publicado as 12 caricaturas de Maomé em solidariedade com o diário dinamarquês "Jyllands-Posten" que em primeiro lugar as publicou.

02 fevereiro 2006

Nova crónica

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O telegrama morreu

"O telegrama morreu. Foi uma morte inglória, sem honras, anunciada, ironicamente, através do meio que lhedesferiu sem misericórdia o golpe final - o correio electrónico. Foi uma morte lenta causada pelas máquinas de fax, pelas ligações telefónicas internacionais melhores e mais baratas, tornadas mais acessíveis pelo telemóvel. Numa daquelas ironias cruéis da vida, a morte do telegrama foi anunciada numa mensagem entregue pelo meio que lhe deu finalmente o golpe mortal. “Com efeito, a partir de 27 de Janeiro de 2006, a Western Union vai descontinuar todos os serviços de telegramas e de serviços de mensagens comerciais”, lê-se no “e-mail” da última companhia dos Estados Unidos ainda com serviço de telegramas. Enterrado no meio de dezenas de outros “e-mails”, este que anuncia a morte do telegrama passou despercebido. “Lamentamos qualquer inconveniência que isto lhe possa causar e agradecemos-lhe o seu patrocínio leal”, acrescenta. Inconvenientes não trará, mas deixará recordações, inevitavelmente, a muitos que tiveram de dominar a arte de poupar palavras e de omitir pontuação para poupar dinheiro. O telegrama era pago à palavra. “Chego Lisboa 15 tarde” ou “Bebé nasceu 7 todos bem” ou “Fundos precisos urgentemente”. Viagens, mortes, alegrias, doenças ou negócios de milhões – de tudo se passava informação através do telegrama. Parco em palavras – era essa a regra – mas com o essencial da mensagem todo nele contido. “Lamento informar Titanic afundado esta manhã 15 choque com iceberg grande perda de vida detalhes mais tarde”. Foi assim que Bruce Ismay do navio SS Carpathia informou o seu escritório em Nova Iorque do naufrágio do Titanic. “Preciso autoridade alugar armazém lugar chamado Hollywood 75 dólares mês”. Eram estas as palavras do telegrama enviado pelo famoso produtor de filmes Cecil B. DeMille, da Califórnia, em 1913, para os escritórios da sua companhia em Nova Iorque, anunciando, sem o saber então, o nascimento da indústria do cinema norte-americano. Na Western Union ninguém quis falar sobre a morte do telegrama. Mas um analista financeiro, John Kraft, disse que a eliminação do telegrama “do ponto de vista financeiro não tem qualquer discussão”. “Se havia custos para manter esse serviço e ninguém o usa, não há razão para o manter,” argumentou. O telegrama morreu. Alguns notaram. Poucos se importaram.Ninguém terá chorado."
(Notícia de José Pestana da Agência Lusa sobre a morte oficial do telegrama)

01 fevereiro 2006

Sobre a crítica

Sinto-me a chegar tarde à polémica desatada por João Pedro George. Mesmo assim, venho apenas para ressaltar a confusão: o que é que a crítica literária tem a ver com a amizade? O que é que as relações pessoais entre os críticos e os autores têm a ver com a obra em si? A confusão está no ponto de partida: a desonestidade intelectual. Só se aceitarmos que todos somos desonestos intelectualmente poderemos obrigar-nos a reger a pena pela máxima da mulher de César. Os nossos amigos são os nossos amigos. Independentemente das obras que possam criar ou pelas obras que possam criar. No primeiro caso, uma crítica boa ou má não modifica a condição; no segundo, quando a amizade surge por virtude da obra, o mais provável é que o crítico siga elogiando a obra do autor de quem se tornou amigo - ou não, o que também não muda a condição. O que está em causa é a honestidade, não a amizade.
Se os amigos se perdem por causa de uma crítica dura, bem fundamentada e intelectualmente honesta, não valiam a pena. Se os amigos solicitam panegíricos mais valia estarem calados - embora o ego, como sabemos, seja como os gatos, independente, arisco, às vezes ufano, outras a necessitar de uma mãozinha a passar pelo pêlo.

Editorial do "Público"

Nuno Pacheco, que hoje assina o editorial do "Público", tem uma opinião que subscrevo sobre os cartoons de Maomé. Aliás, já por mim defendida no post colocado ontem.

As caricaturas

Para quem tiver curiosidade em ver as caricaturas de Maomé publicadas pelo diário dinamarquês e já republicadas por vários jornais europeus pode aceder por aqui. Uma forma de evitar algumas falsas caricaturas que andam a circular por aí.