31 janeiro 2006

A força da moderação

Chateia-me quando o politicamente correcto impede a esquerda de saltar a terreiro no momento em que milhares de manifestantes (uns genuínos na sua indignação, outros claramente manipulados) e vários Governos (muitos deles, práticos na manipulação dos instintos da rua através da religião) se lançam a vociferar quando alguém no mundo ocidental ousa questionar os dogmas do Islão. Como é que se pode andar a doutrinar o Ocidente sobre a tolerância do mundo muçulmano e depois aceitar que os fanáticos religiosos tomem conta do discurso cada vez que alguém se permite usar os símbolos religiosos islâmicos?
Todas as religiões têm os seus fanáticos, gente incapaz de perceber que a tolerância é uma virtude e que os não-religiosos têm tanto direito de questionar os dogmas dos crentes, como estes possuem o direito de anatematizar os descrentes por não crerem num ente trascendental.
O problema está quando os crentes moderados, os tolerantes, aqueles que acreditam na liberdade de expressão, na liberdade de culto, no direito de cada um amar o seu deus, os seus deuses ou nenhum deus, não saltam a terreiro a vociferar contra os vociferantes que dão mau nome à religião.
É verdade que aceitar que alguém questione os nossos dogmas pode pôr em causa os alicerces da nossa fé, caso esta não esteja assente numa estrutura sólida de pensamento e apenas em noções vácuas, esqueletos perenes e mantras repetidos hipnoticamente.
A fatwa contra Salman Rushdie, a morte de Theo van Gogh e agora as caricaturas de Maomé publicadas pelo diário dinamarquês Jyllands-Posten são apenas exemplos de como a religião pode ser encurralada pelos fanáticos e pelos que a usam politicamente em seu proveito.
Esses mesmos fanáticos existem no Ocidente e existem em Israel e também eles pretendem encurralar os moderados e os não-crentes num canto para onde possam atirar as primeiras, as segundas e as terceiras pedras do alto da sua vida impoluta inventada e das suas crenças hipocritamente manipuladas em proveito próprio.
A diferença parece estar no facto de que as vozes moderadas ainda têm alguma força no Ocidente - até quando? -, o que permite contrabalançar os pratos da balança religiosa de forma a evitar a tomada do poder público por parte dos fanáticos.
Ora, se o politicamente correcto continuar a presidir a todas as afirmações públicas dos nossos governantes - um politicamente correcto que nada tem a ver com a liberdade de expressão, mas é a resposta amedrontada aos vociferantes insultos - então um dia iremos acordar com a língua amarrada e os dedos amarrados e os ouvidos congestionados e já nada poderemos fazer.
As vozes vociferantes são isso mesmo, vozes vociferantes, não têm razão porque gritam. Se pedimos desculpas, damos-lhes razão. E, então, para se ter razão, teremos de gritar. E se todos gritarmos, ninguém entenderá nada no meio da cacofonia.
A liberdade de expressão é um pau de dois bicos: tanto nos permite pensar o que queremos, como aos mais extremistas dos nossos conterrâneos lhes dá possibilidade de congeminar as mais nefastas ideias. Não me importo que me digam que estou errado, que nada do que eu penso é aproveitável, mas importo-me quando me dizem que me cale. O mesmo vale para um ortodoxo judeu gritando palavras de ordem contra os palestinianos, um imã radical diabolizando a vida ocidental ou um jornal dinamarquês publicando caricaturas de Maomé. Aceitar a liberdade de expressão não é fácil. Mas não tem de o ser.

P.S. Não vi as caricaturas (não foi porque não tivesse tentado), mas também isso não é relevante para o ponto de vista que defendo. Aliás, desconfio que grande parte dos que exigiram um pedido de desculpas do Governo dinamarquês também não as viram. A liberdade de expressão, como escrevi antes, nada tem a ver com o meu gosto pessoal.

Três ideias do Hamas

De uma entrevista feita por Alexandra Lucas Coelho (uma das melhores, senão mesmo a melhor jornalista portuguesa da actualidade) a um dos líderes do Hamas, Mahmud Ramahi, no "Público" de hoje, retiro estas citações:

"Estamos dispostos a renovar já a trégua com Israel, se os prisioneiros forem libertados, o exército sair do centro das cidades palestinianas, e não violar a trégua matando militantes."

"[Depois, se Israel] reconhecer o direito que temos a viver em paz e segurança, sem ocupação, retirando os colonatos [e] houver garantias internacionais [de que isso será respeitado, o Hamas admite] formar um Estado nas fronteiras de 1967, ou seja, em Gaza e na Cisjordânia, com Jerusalém Oriental como capital."

"Podemos pôr fim à resistência durante dez, 20 anos, uma longa trégua. Como uma solução temporária para a nossa geração. E deixarmos o resto para o futuro decidir. Nesta geração não vamos reconhecer o Estado de Israel, porque Israel não tem uma solução para os refugiados."

26 janeiro 2006

Islão urbano

O Museu das Culturas de Basileia, na Suíça, tem uma exposição muito interessante sobre a forma como o islão é visto e vivido pelos jovens de vários países (Senegal, Turquia, Suíça, Suriname e Marrocos). Pode ser acedido por este site.

Sobre as eleições palestinianas

A vitória do Hamas nas eleições legislativas palestinianas é uma consequência de pelo menos quatro coisas:

a) do trabalho humanitário que o movimento tem feito nas últimas duas décadas nos territórios palestinianos, com investimentos na saúde e na educação e uma presença forte nos campos de refugiados;

b) da sua posição de intransigente resistência a qualquer iniciativa israelita e da imagem de força que foi granjeando junto da população palestiniana, principalmente junto da juventude que, perante as agruras impostas pela Segunda Intifada, encaram a luta contra a ocupação como a única ocupação possível;

c) da corrupção e da perda de capacidade de influência nas ruas dos principais dirigentes da Fatah, dez anos ininterruptos no poder deixaram marcas impossíveis de lavar e afastaram de forma abissal uma elite que veio de fora e se mostrou incapaz de cativar os jovens, que representam a maioria da população dos territórios ocupados - o popular Marwan Barghouti, actualmente detido pelos israelitas, é o único membro da Fatah que parece ter capacidade para mobilizar multidões e impedir a hegemonia do Hamas, principalmente na Faixa de Gaza;

d) Israel, ao apontar o seu poderio militar para os líderes do Hamas, matando o xeque Yasin e Abdel Azziz Rantisi e transformando-os em mártires, ajudou a solidificar o poder de influência do movimento islâmico, a ponto deste conseguir recrutar adeptos até entre aqueles que não defendem as ideias integristas do movimento.

O Hamas ganhou as eleições também porque se soube manter longe do poder e das tentações do dinheiro fácil. A sua imagem impoluta serve de contraste à imagem da Fatah e da Autoridade Palestiniana que esta dominou nos últimos dez anos, olhada pela maioria como um berço de corruptos.

25 janeiro 2006

Conservadores

Um inquérito do diário marroquino "L'Economiste" mostra que a juventude marroquina está cada vez mais conservadora. Segundo o diário, 73 por cento dos jovens com menos de 30 anos só admite casar-se com mulheres muçulmanas. Há até 49 por cento que preferem uma mulher que use véu. Outro dos dados curiosos desta sondagem é que 44 por cento dos inquiridos não considera a Al-Qaida uma organização terrorista.

E dizem que é difícil conseguir empréstimos

Uma reformada brasileira pediu 1000 reais (360 euros) emprestados ao banco para pagar ao assassino do seu filho. A mulher de 76 anos, em cumplicidade com a filha e o genro, mandou matar o filho de 46 anos por causa do desacordo em relação à herança de uma casa.
Se a mulher não tinha os mil reais para pagar ao matador como é que o banco lhe emprestou o dinheiro? Normalmente, os bancos só emprestam a quem tem dinheiro!
Mas, mesmo que o banco tenha decidido que a senhora tinha garantias, qual foi a justificação apresentada para o empréstimo? Preciso do dinheiro para ser operada a um quisto?

24 janeiro 2006

Bin Laden, mestre do marketing

Uma notícia breve no "Diário de Notícias" de hoje dá conta de como Ussama bin Laden se transformou num líder de opinião a nível mundial, um fenómeno da globalização.
Diz a notícia:

"Na cassete audio transmitida quinta-feira Bin Laden ameaça voltar a atacar os Estados Unidos e aconselha os americanos a lerem o livro 'The Rogue State' (O Estado Pária). O livro, crítico da política externa dos EUA, era então nº209.000 da lista de vendas da www.amazon.com. Bastou-lhe a referência em causa para, 24 horas depois, passar para o nº30 entre os mais vendidos."

Ben Laden ajudou com a sua declaração não só o livro de William Blum, cujo título completo é "The Rogue State - A Guide to the World's Only Superpower", como também a editora, a Common Courage Press, uma pequena editora progressista de Monroe, no estado do Maine. Aqui está um texto sobre o livro.

Regresso

Regressado de um final de campanha eleitoral na estrada, acompanhando Jerónimo de Sousa, apenas para dizer que a segunda "história do fim do mundo" já está disponível. Pode aceder através daqui ou pelo link ao lado.

13 janeiro 2006

Mosaico Araki

Mosaico Araki

Mosaico Araki

Mosaico Araki

Mosaico Araki

Araki


Nobuyoshi Araki tem uma exposição em Madrid.

Duas frases do próprio:

"Em pequeno, o meu parque era o cemitério. Ali aprendi que nada pode separar a vida da morte."

"Se não tivesse a fotografia, não tinha absolutamente nada. A minha vida anda toda à volta da fotografia, logo a vida é em si mesma fotografia."

Um texto sobre e outro texto também sobre. A vida, o sexo, a morte, o sexo, a vida e a morte.

12 janeiro 2006

O enigma de Sharon

Vale a pena ler este texto do escritor Amos Oz no "Diário de Notícias".

11 janeiro 2006

Um silogismo nuclear

Se os ecossistemas da zona evacuada de Chernobyl, 4000 mil quilómetros quadrados na Ucrânia, Bielorússia e Rússia, estão a dar mostras de recuperação e a sua biodiversidade é superior à existente antes do desastre nuclear de 1986, como diz a revista Nature, não resisto a um silogismo:

a) se animais e plantas crescem e se reproduzem num ambiente de contaminação nuclear

b) se animais e plantas crescem e se reproduzem num ambiente que o homem foi obrigado a abandonar

c) então é porque plantas e animais se reproduzem melhor num ambiente contaminado por radiações do que contaminado pelo homem

Tendo isto em conta, não corremos o risco de que alguém considere a explosão nuclear como uma boa forma de renovação do planeta?

10 janeiro 2006

Hossanas como antes e sempre

Em jeito de comentário à hossana de pvilarinho no Mandatário Digital.
Não estou a ver a relevância de uma frase completamente banal que, mesmo em 1981, já era mais do que óbvia - basta lembrar o choque petrolífero da década de 70. Que o professor Cavaco Silva se tivesse dado ao trabalho de colocar em prática essa política nos dez anos que esteve no Poder, isso sim seria digno de nota. Assim, são apenas excessos de um apoiante necessitado de agradar.

Mais umas achegas

Caro Rui Branco, ao contrário da inferência que faz desse fatídico quinto parágrafo, algumas ressalvas:

a) pormenor de somenos importância, a busca no Technorati foi feita pelo nome completo, portanto só foram contabilizadas as referências “Cavaco Silva”, “Mário Soares”, “Manuel Alegre”, “Jerónimo de Sousa”, “Francisco Louça” e “Garcia Pereira” para evitar expressões como “dar cavaco” e para tentar reduzir as contabilizações repetidas do mesmo “post” – como disse, pormenores, pois nada disso tem a ver com substrato da sua análise;
b) ao escrever “reflecte, em certa medida, a tendência de voto” “apontada pelas sondagens” quis escrever isso mesmo. Existem sondagens, todas elas dão a vitória a Cavaco Silva, o segundo lugar a Mário Soares ou a Manuel Alegre, o quarto lugar a Jerónimo de Sousa e o quinto a Francisco Louça e o sexto a Garcia Pereira. Portanto, se nesta busca pelo Technorati os resultados colocam as candidatos exactamente pela mesma ordem (a diferença entre Soares e Alegre é curta, tal como nas sondagens ela é curta), então podemos inferir, pelo menos, “em certa medida”, que estes resultados reflectem “a tendência de voto para as eleições de 22 de Janeiro apontada pelas sondagens”. Não é uma afirmação política, nem uma afirmação que pretenda disfarçar interpretação com factos, limita-se a constatar que na busca pelo Technorati (que vale aquilo que vale, nem nunca teve intenção de ser um estudo científico – a referência às 16 horas era exactamente uma salvaguarda para os resultados da minha busca, que, eu sei, nunca poderiam ser considerados, fechados, uma vez que os blogues são imediatos e estão em permanente mutação, o ‘Público’ deveria ter retirado a referência ou actualizado os resultados, pois, logicamente, quando os números foram por eles publicados já não correspondiam à realidade)
c) quanto à relevância ou irrelevância das notícias, posso dizer-lhe, por experiência própria, que, tirando as notícias que são incontornáveis, a hierarquização do noticiário é uma técnica perfeitamente subjectiva e, ao contrário do que afirma, com aquele quinto parágrafo ou sem aquele quinto parágrafo, aquela notícia (aqui divergimos, porque, ao contrário do que escreve, acho que sendo secundária não deixa de ser uma notícia, porque tem informações quantitativas sobre um mundo que se está a tornar cada vez mais importantes, a blogosfera) tem a mesma relevância ou seja pouca. Dar-lhe a importância que lhe deu, transformou-a (muitas vezes, a nossa ânsia de interpretação vê crimes em todas as impressões digitais), porque, se quer que lhe diga, para mim, que nada tenho a ver com o editor que a colocou em página, a notícia serviu apenas um objectivo: tapar aquele espaço.

Os meus cumprimentos,
António Rodrigues

P. S. Recomendo-lhe um artigo muito interessante da “New Yorker” sobre especialistas, interpretações e previsões.

A resposta de Rui Branco

Caro António Rodrigues,
Permita-me, desde logo, que separe duas coisas que nada têm que ver uma com a outra. Uma coisa, é o conjunto das duas notícias da Lusa por si escritas, outra coisa é a utilização por parte do jornal Público de ontem de apenas uma delas. Cinjamo-nos a esta, porque foi sobre esta e à sua publicação sem mais pelo Público que me referi aqui.
Esta notícia não é pura e simplesmente uma notícia. E não é uma notícia porque não tem qualquer conteúdo noticioso ou sequer informativo relevante. O facto de os nomes dos candidatos surgirem citados no technorati x ou y número de vezes é, em si mesmo, ausente de significado político. Isto porque, como admite no seu post de resposta, podem ser citados apreciativamente, depreciativamente, duzentas vezes de seguida, pode alguém escrever em vários blogues, podemos estar a falar em «dar cavaco a alguém», do Soares do talho, do Jerónimo de Sousa que é meu primo, etc. Foi isto que tentei mostrar no meu post, ironizando.
É como o televoto: é impossível retirar qualquer inferência noticiosa para além do simples facto numérico do número de citações. É por isso que a alusão aos 24,7 milhões de blogues é irrelevante (se eu lhe dissesse que hoje já são 24,8 milhões de blogues – e já são – essa informação seria igualmente irrelevante para o meu argumento aqui); é por isso que a referência muito precisa aos números de cada candidato é irrelevante; é por isso que a referência «às últimas 16 horas» é irrelevante. São sinais exteriores de precisão, fazendo apelo a uma retórica da objectividade, à qual não corresponde qualquer realidade efectiva.
E isso, desculpe que lhe diga, não é jornalismo criterioso. Contudo, até ao quinto parágrafo, a notícia era só isso: uma não-notícia. O pior é o dito quinto parágrafo, onde se faz a ligação que transforma uma coisa até aí irrelevante noutra coisa, numa coisa algo mais grave. Cito na íntegra: «Quanto aos outros candidatos, a distância é grande, mostrando que também a Internet reflecte, em certa medida, a tendência de voto para as eleições de 22 de Janeiro apontada pelas sondagens».
Digo-o, então, claramente: o número de vezes que os nomes dos candidatos são citados no technorati em nenhuma medida reflecte a tendência de voto para estas ou quaisquer outras eleições.
Se assim não fosse, caro António, porque não retirar a conclusão contrária à sua, deduzindo dos números de citações que Mário Soares está muito mais próximo de Cavaco Silva do que as sondagens têm vindo a mostrar? E que, por conseguinte, o número de citações não reflecte, «em certa medida, a tendência de voto para as eleições de 22 de Janeiro apontada pelas sondagens».
V. acusa-me de sobrevalorizar o quinto parágrafo, mas é o contrário que sucede. Sem o que é erradamente afirmado no dito parágrafo, V. não chega a ter uma «notícia» porque é esse parágrafo que, erroneamente, estabelece uma ponte entre uma coisa em si mesma muda, um número cujo sentido é insondável, e uma realidade, política, essa sim muito relevante.com os

os meus cumprimentos,
Rui Branco

09 janeiro 2006

Blogues sem capacidade para influenciar a agenda de campanha

(aqui fica o texto da Lusa sobre os blogues)

Lisboa, 08 Jan (Lusa) – Os blogues estão a ter pouco impacto na campanha das presidenciais, os responsáveis pelas candidaturas afirmam estar atentos ao que se discute na Internet, mas revelam que a blogosfera não influencia a agenda dos seus candidatos.
Apesar do surgimento de vários espaços anti-Cavaco e do diálogo entre os blogues de apoio a Cavaco Silva como o Pulo do Lobo (pulo-do-lobo.blogspot.com) e a Mário Soares, Super Mário (mario-super.blogspot.com), às páginas dos jornais não tem chegado quase nada do que se vai discutindo na Internet.
“Falta-nos dar um passo, o de termos mais blogues de cariz jornalístico, capazes de influenciar a vida pública. Em Portugal, é impensável haver blogues financiados pelos leitores como existem nosEstados Unidos. Estamos num plano de formação da capacidade de influência. Ainda falta o profissionalismo”, explica à Agência Lusa Pedro Lomba, colunista do DN e animador do blogue Pulo do Lobo.
Na última campanha presidencial nos Estados Unidos, tanto o partido republicano como o partido democrata reservaram espaço para os principais “bloggers” nos seus congressos e há blogues que marcam aagenda política e noticiosa.
Dan Rather, apresentador do programa “60 Minutes” da cadeia detelevisão norte-americana CBS – transmitido em Portugal pela SICNotícias -, viu-se obrigado a antecipar a sua reforma, depois de umblogue ter denunciado como falsos os documentos apresentados pelo jornalista numa peça sobre o serviço militar de George W. Bush.
“Muitas das discussões mais importantes da pré-campanha passaram mais pela blogosfera do que pela imprensa tradicional. Fiquei surpreendido, porque esperava uma maior visibilidade mediática”, disse à Lusa José Mário Silva, um dos fundadores do Blogue de Esquerda(bde.weblog.com.pt).
“Existe uma relação ambivalente, às vezes até tensa, entre os meios tradicionais e os blogues. Há uma série de micro-causas, como lhe chamou Pacheco Pereira, que são discutidas nos blogues e que não aparecem nos meios tradicionais”, explicou Diogo Vasconcelos, mandatário digital da campanha de Cavaco Silva.
Para o escritor e jornalista Francisco José Viegas, que escreve no Pulo do Lobo, o debate das presidenciais “já foi esgotado na blogosfera”, onde “a campanha, que é muito longa, já acabou”.
“O debate na rua é sobre se Cavaco Silva vai ganhar na primeira volta ou não, na blogosfera esse debate já foi esgotado”, afirma à Lusa, ressalvando, porém, ser “natural que na última semanade campanha haja um regresso das presidenciais à ‘blogosfera’”.
Francisco José Viegas aponta outro pormenor que poderá explicar a situação: “Os candidatos que poderiam aproveitar melhor a ‘blogosfera’, como Manuel Alegre e Francisco Louçã, não o têm feito”.
“Os blogues têm uma função mais de debate, acabam por ser muito participados, mas no fundo não há assim tanta gente que os consulta”, explica a arquitecta Helena Roseta, responsável pelo “site”da candidatura de Manuel Alegre – www.manuelalegre.com.
“O portal é mais importante para nós. Quando não se tem apoio partidário, nem muitos meios, o portal é um instrumento fundamental, pois serve como estrutura da organização. Posso até dizer, que sem o portal esta campanha não seria possível, basta dizer que foi através dele que fizemos a recolha das assinaturas”, acrescentou.
Também a candidatura apoiada pelo Bloco de Esquerda apostou somente no portal de Francisco Louçã (www.franciscopresidente.net).
“Não sentimos necessidade de criar um blogue. Temos espaço no ‘site’ para as notas de campanha e para o acompanhamento do que sai na imprensa. Os blogues semi-oficiais, oficiais ou oficiosos têm funcionado muito mais numa lógica de negação que de apoio”, adiantou Pedro Sales, assessor de imprensa de Louçã, à Lusa.
Nesta campanha surgiram também muitos blogues que “nada têm para oferecer a não ser o ódio intestinal a um dos candidatos”, explica Pedro Lomba.
Nesse aspecto, Cavaco Silva ganha por maioria – Cavaco Fora de Belém (cavacoforabelem.blogspot), Lobo com Pele de Cordeiro (lobo-cordeiro-blogspot.com) e Great Portuguese Disaster 1985-1995(greatportuguesedisaster.blogspot.com) são apenas alguns.
O candidato apoiado pelo PSD e CDS apostou em força naInternet e tem Diogo Vasconcelos como mandatário digital(mandatariodigital.blogspot.com).
“Decidiu-se desde o princípio que a campanha digital era nevrálgica para Cavaco Silva. Por isso, o nosso ‘site’ foi lançado a 10 de Novembro pelo professor com 300 pequenas e médias empresas inovadoras que quiseram demonstrar publicamente o seu apoio à candidatura”, disse à Lusa Diogo Vasconcelos.
Embora, como afirma o apoiante de Cavaco Silva, “os blogues tenham influência crescente na formação de opinião de uma faixa importante de pessoas”, Tiago Mota Saraiva, apoiante de Jerónimo de Sousa, reconhece que “os blogues estão limitados às pessoas com acesso à Internet”. Animador do blogue não oficial de apoio a Jerónimo de Sousa(maislivre.blogspot.com), Tiago Mota Saraiva é de opinião que, apesar de “os blogues não saírem assim tanto para fora da Internet, alguns dos argumentos discutidos na blogosfera acabam por surgir como argumentos dos candidatos”.
Facto que é negado indirectamente por António Rodrigues, assessor de imprensa da campanha do candidato comunista: “Acompanhamos o que dizem os blogues, os dos candidatos e tudo o resto, mas não tem influenciado a campanha, porque neles não há novidade ou razões que o justifiquem, tendo em atenção a cobertura que é feita pelos media”.
Da mesma opinião é Ivan Nunes, membro da comissão política dacandidatura de Mário Soares e colaborador do blogue Super Mário. “Estar na blogosfera é importante para o debate que aí decorre, mas não tem significado quantitativo neste momento. É mais uma fonte de informação, sem gerar em si grandes temas. A opinião tem sido marcada pela imprensa, os blogues digerem e discutem o que passa nessa imprensa”, acrescentou.
“A blogosfera está mais política e está mais presa a uma agenda que não tem capacidade para influenciar”, concluiu Ivan Nunes.
AR.
Lusa/Fim

Resposta a Rui Branco do Super Mário

Caro Rui Branco, os textos têm de ser lidos na sua totalidade e não de forma parcial em função do que nos dá jeito para fundamentar uma opinião a priori construída. Quando queremos ver perseguições na imprensa (que também as há), apontar o dedo a todos faz-nos entrar no domínio da demência e a perder qualquer tipo de razão. O pequeno texto publicado no “Público” e escrito por mim (António Rodrigues, jornalista da Lusa) era apenas um pequeno apontamento colocado em linha como complemento a um texto maior sobre os blogues e a sua influência ou falta de influência nesta campanha eleitoral (Ivan Nunes também lá vem citado, vejam bem!). Sem querer ser mais do que isso, começa por dizer no lead que “Cavaco Silva é o candidato mais citado” e sublinho a palavra “citado”, um pequeno pormenor, que, provavelmente, lhe deverá ter escapado, mais interessado que estava em ler o quinto parágrafo de forma tão atenta. Quando escrevi “citado”, queria dizer isso mesmo, “citado”. Ou seja, para o mal ou para bem, insultado ou elogiado, o nome de Cavaco Silva aparecia aquele número de vezes citado pelos bloggers. Compreendo, no entanto, a sua necessidade de apontar baterias ao quinto parágrafo de uma pequena notícia – muitas vezes também me sinto assim, frustrado porque este mundo não é bem como eu quero ou desejava que fosse –, aconselho-o a fazer como eu, resista, não vá directamente ao quinto parágrafo, comece sempre pelo primeiro, é que este às vezes surpreende-nos e é tal qual esperávamos.

António Rodrigues (malapatria.blogspot.com)

P.S. Não menospreze logo à partida o interesse dos “blogues americanos, finlandeses, bielorussos e neo-zelandeses” nas eleições presidenciais portuguesas. No Consulado de Helsínquia há 27 eleitores inscritos para votar, já para não falar dos 11123 eleitores inscritos nos Estados Unidos. E antes que me acuse de qualquer coisa, estava a ser irónico.

Ver o texto de Rui Branco no Super Mário.

08 janeiro 2006

Ódio à arte contemporânea

"Não conheço nenhuma outra situação em nenhum país da Europa em que haja aquilo que existe em Portugal e que costumo dizer que é um ódio à arte contemporânea."
(Raquel Henriques da Silva, ex-directora do Instituto Português de Museus e do Museu do Chiado, em entrevista à "Pública")

Ainda a censura

Quem quiser saber mais sobre Tanja Ostojic e sobre a polémica pode consultar o site da artista aqui.

Censura

Deixei cair o moderno do título, porque a censura é tão velha quanto a criatividade do homem. O bom artista é e sempre terá de ser um visionário ou não seria mais do que um homem como nós. Como tal, por olhar para o futuro, por olhar para o belo e o feio que está à nossa volta e dentro de nós, o artista sempre esteve sujeito à censura dos outros. A arte é um excesso - que, numa das suas definições, quer dizer falta de moderação -, se não o fosse para que servia?

A censura moderna


Esta é uma fotografia da artista Tanja Ostojic, criada para o projecto "EuropArt" da presidência austríaca da União Europeia que começou a 1 de Janeiro. O Governo da Áustria quis por bem assinalar a ocasião com 80 obras de outros tantos artistas provenientes dos 25 Estados membros que estão colocados um pouco por toda a Viena em 40 painéis rotativos. Ou estavam: tanto a fotografia de Ostojic como outra do espanhol Carlos Aires (representando uma cena de sexo entre três pessoas com máscaras de Bush, Isabel II e Chirac) foram retiradas por causa da polémica que provocaram.

A censura moderna


Este é um quadro do pintor francês Gustave Courbet, chama-se "A Origem do Mundo" e foi pintado em 1866. Na altura, provocou um autêntico escândalo. Hoje está em exposição num dos mais importantes museus de Paris, o Musée d'Orsay.

A intimidade vista por Françoise Huguier




Françoise Huguier é capaz de captar a intimidade de alguém como se fosse o próprio sujeito da fotografia fotografando-se a si mesmo. É como se a fotógrafa fosse capaz de captar imagens a partir da total invisibilidade. Para quem quiser explorar um pouco do que é capaz esta fotógrafa entre aqui.

Crónicas

Já está disponível a primeira das "Histórias do Fim do Mundo", crónicas escritas para o semanário português de Toronto "O Correio Canadiano/Nove Ilhas". Pode aceder por aqui ou através do link ao lado.

04 janeiro 2006

Menos um repórter

Morreu Carlos Cáceres Monteiro. Portugal perdeu mais um desses homens em vias de extinção: os verdadeiros repórteres. Que tenha um bom descanso no hotel Babilónia!